quarta-feira, 8 de abril de 2009

Sobre a solidão



Eu penso que algumas pessoas se enganam sobre a solidão. Algumas, pra não dizer muitas, pra não dizer quase todas. Ou, o que também é possível, só algumas que conseguem fazer parecer que são todas. Tantos filmes e tantos livros e tantas conversas perdidas nos trens e nos ônibus falando sobre como é importante não estar sozinho naquelas horas, naques dias. Nas horas terríveis, nos dias surreais. Na morte, na doença, na desilusão. Não discuto isso, a simples presença de alguém, quem quer que seja, evita inúmeros suicídios. Principalmente das pessoas que não querem de fato morrer, só querem não estar vivas ali e naquela hora.

O ponto é que, nessas horas, basta ter alguém. Claro, alguém que será inesquecível, por quem gratidão nenhuma no mundo será suficiente e cuja memória estará para sempre preservada. No meu caso, eu lembro daquele colega no velório e da minha melhor amiga me fazendo prometer que eu não iria me matar nas crises de depressão da adolescência. São pessoas que teriam de inventar algo de profundamente ruim para poderem sair do Panteão. Eles estavam lá, naquela hora, naquele dia e foram alguém insubstituível e valioso. Mas não são (ou não são mais) a "minha pessoa". Solidão é quando você não tem a sua pessoa. A solidão mais assustadora é quando você não tem mais. E a absoluta é quando você nunca teve.

Então quem é a sua pessoa? É o nome escrito na linha da agenda "em caso de emergência avisar a". O nome que não é o do seus pais. A sua pessoa é pra quem vc liga pra contar que seu gato entrou no apartamento da vizinha atrás do cheiro bom da comida dela. É aquela que tem o endereço dos seus blogs, de todos eles. Nas palavras da Cristina Yang, de quem eu roubei o conceito, "é quem te ajuda a enterrar o corpo." Pra quem vc liga (antes do seu pai) quando passa no vestibular. Ou melhor, é quem já sabe que vc passou no vestibular porque ficou olhando na internet desde que acordou, e que sabe que vc detestaria (ou não) que alguém te contasse antes. Vc sabe que ele ou ela é essa pessoa se ela já atende o telefone gritando, ou, dependendo do caso, já está na sua porta coms as garafas de champanhe.

Por óbvio, ela estará lá naquele dia, naquelas horas. Porque ela sabe que certas dores são profundas e intangíveis. Mas ela estará também em todos os outros dias porque também sabe queo cotidiano é capaz de fundar e perpetrar dores mais agudas, mais constantes e mais abrangentes. E, por isso mesmo, de um dano muito mais irreparável. 

Falo aqui de um tipo de ligação covalente, não dativa. Ser ou ter alguém assim é, antes de tudo uma relação de prazer e necessidade. É ficar de feliz de ouvir e feliz de contar. É precisar compartilhar. É algo tão perfeito que não parece real, mas que não se quer questionar a realidade.

De uma perfeição tão exata que, talvez por isso mesmo, eu só tenha vista na ficção e na poesia. E, talvez também por isso mesmo, eu sinta tanta falta de alguém assim. Com certeza por isso mesmo, eu me veja tão claramente na Cristina: porque certas pessoas, como nós, tem por missão entreter o Destino. Porque nós não somos "aquela pessoa". E porque a arte comete o crime de denunciar o belo na tristeza e na solidão, sem nunca saber o quanto de dor traz a incompreensão, causa e consequência de todo estar sozinho.

Sob o efeito de "In the midnight hour", "All by myself" e "Wish you were here" - Capítulos 9,10 e 11 de Grey´s Anatomy.

"Quando você é criança a noite é assustadora porque há monstros embaixo da cama. Quando você cresce, os monstros são diferentes. Dúvida. Solidão. Arrependimento. E embora talvez você seja mais velho e mais inteligente, você ainda continua com medo do escuro. " Meredith Gray

"- ... Sinto raiva de um órgão. Eu não sei. Talvez eu não querira fazer cirurgia geral afinal. Talvez precise de um novo desafio. Talvez preciso fazer algo que me balance na base. Talvez eu só esteja cansada. 
- Ok. Estar cansada. Não é? 
- You tired too?
- Exausta. profundamente exausta. Eu só queria... Não sei. Mas quero algo.
- Então somos duas (três, contando comigo)" Miranda Bailey e Callie Torres

"Sleep. Is the easy think to do. You just close your eyes. But, for so many of us, the sleep is out of alcance. We wanted, but we dont know hoy to get it. But when we face our deamons, we face our fears, and turn to each other for help, nighttime is not so scarry because we are not alone. In the dark." Meredith Gray.
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